Visão indígena do universo é revelada em arte rupestre de 4.000 anos

Por mais de 4.000 anos, os povos indígenas das Américas produziram pinturas rupestres que representavam sua concepção do universo no que hoje é o sudoeste do Texas e o norte do México, aponta um novo estudo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADETécnicas inovadoras de datação revelaram que a arte rupestre, conhecida como tradição do estilo Pecos River, provavelmente surgiu há quase 6.000 anos e persistiu até cerca de 1.400 a 1.000 anos atrás, abrangendo aproximadamente 175 gerações.
Ao longo desse período, o estilo — encontrado em uma região conhecida como Lower Pecos Canyonlands — permaneceu notavelmente consistente tanto nas imagens quanto nas técnicas usadas para criar as pinturas, que parecem seguir um conjunto rígido de regras, relataram os pesquisadores no estudo, publicado na quarta-feira (26 de novembro) na revista Science Advances. Os autores acreditam que as obras expressam a “cosmovisão” de seus criadores, isto é, a visão de mundo e concepção do universo de uma cultura.
“Francamente, ficamos surpresos ao descobrir que os murais continuaram sendo produzidos por mais de 4.000 anos e que a sequência de pintura, guiada por regras, também persistiu durante todo esse período”, disse Carolyn Boyd, coautora do estudo e professora de antropologia na Texas State University.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEEla comparou a região de cânions a uma “biblioteca antiga contendo centenas de livros escritos por 175 gerações de pintores”, acrescentando que “as histórias que eles contam ainda estão sendo contadas hoje”.
Os antigos murais encontrados nas faces de rocha calcária ao longo da região consistem em pinturas elaboradas e multicoloridas que representam figuras humanas e animais, além de símbolos mais enigmáticos. Os artistas que as criaram produziram narrativas visuais que relatam mitos e descrevem rituais, de acordo com Boyd.
“Muitos dos mais de 200 murais da região são enormes; alguns se estendem por mais de 30 metros de comprimento e 6 metros de altura e contêm centenas de imagens pintadas com grande habilidade”, disse Boyd.
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Os pintores eram caçadores-coletores nômades, mas sua identidade permanece desconhecida, segundo Boyd.
“Eles eram solucionadores de problemas altamente habilidosos, com uma cosmologia sofisticada e um sistema iconográfico robusto para comunicar essa cosmologia”, disse Boyd.
Dat ar arte rupestre apresenta desafios significativos. Mas, para o estudo, os autores utilizaram dois métodos independentes de datação por radiocarbono que normalmente não eram usados em conjunto para datar pinturas em 12 sítios de murais dentro da região de Lower Pecos Canyonlands. Isso garantiu que os pesquisadores pudessem confiar que seus resultados eram consistentes, explicou Karen Steelman, coautora do estudo, química e diretora científica do Shumla Archaeological Research and Education Center, no Texas.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEOs pesquisadores também analisaram a iconografia e a composição dos murais nos sítios, descobrindo que, em muitos casos, os artistas pareciam seguir um conjunto rígido de regras técnicas e convenções estilísticas estabelecidas, mesmo tendo sido produzidos ao longo de um período de 4.000 anos. Por exemplo, os autores determinaram que os criadores geralmente seguiam a mesma sequência ao aplicar tintas coloridas às obras — uma prática transmitida ao longo de múltiplas gerações.

A consistência que esses murais complexos apresentam ao longo de vários milênios, apesar de grandes mudanças ambientais e tecnológicas — por exemplo, em ferramentas de pedra e na produção de fibras — indica a persistência de uma cosmovisão duradoura que deve ter sido extremamente significativa para aqueles caçadores-coletores, segundo Boyd. Essa cosmovisão sofisticada engloba histórias de criação, o conceito de tempo como algo cíclico e sistemas calendáricos complexos, entre outros elementos.
Os pesquisadores identificaram elementos desse sistema de crenças em civilizações mesoamericanas posteriores, como os astecas, assim como entre comunidades indígenas americanas modernas, como os huichol do México, disse ela.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE“Essas pinturas podem ser o registro visual sobrevivente mais antigo da mesma cosmologia central que mais tarde moldou as civilizações mesoamericanas e que hoje se manifesta por toda a América Indígena”, afirmou Boyd em um comunicado.
“Os murais são vistos pelos povos indígenas atuais como divindades ancestrais vivas, respirantes e sencientes, que ainda estão envolvidas na criação e na manutenção do cosmos”, disse Boyd.
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