Dentes fósseis revelam um ancestral humano desconhecido no leste da África

A descoberta, publicada na revista Nature, preenche uma lacuna no registro fóssil da África Oriental. Há cerca de 3 milhões de anos, a espécie de Lucy (Australopithecus afarensis) desapareceu. Um milhão de anos depois, a região já abrigava dois tipos de hominídeos: os primeiros Homo, ancestrais dos humanos modernos, e os Paranthropus.
“Esse achado captura um período de tempo que não foi bem documentado, se é que chegou a ser”, comenta Shara Bailey, paleoantropóloga da Universidade de Nova York que não participou do estudo. “É um trabalho extremamente importante”.

A equipe, liderada por cientistas da Universidade Estadual do Arizona (ASU), vem trabalhando desde 2002 na região de Ledi-Geraru, na Etiópia, especificamente na área de Afar. Esse sítio já havia se mostrado promissor, com a descoberta, em 2013, da mandíbula de Homo mais antiga conhecida (2,8 milhões de anos) e das ferramentas de pedra mais antigas do tipo Olduvaiense.
Os treze dentes foram recuperados entre 2015 e 2018. Para identificá-los, os pesquisadores os compararam com mais de 700 dentes de outras 11 espécies de hominídeos. Lucas Delezene, antropólogo da Universidade do Arkansas que analisou os fósseis, determinou que três deles eram praticamente idênticos aos molares de Homo já encontrados anteriormente na região. No entanto, os outros dez dentes permaneciam um enigma.
“Eu não conseguia encaixá-los em afarensis. Não conseguia associá-los a Homo. Não conseguia relacioná-los a Paranthropus”, explica Delezene. A conclusão foi que pertenciam a uma espécie de Australopithecus até então desconhecida.

Essa descoberta sugere que até quatro tipos de hominídeos (Homo, Paranthropus e duas espécies de Australopithecus) podem ter vagado pelas savanas da África Oriental entre 2,5 e 3 milhões de anos atrás.
“É um quebra-cabeça que estamos tentando montar, e cada peça conta”, afirma Kaye Reed, codiretora do projeto Ledi-Geraru.
Apesar da importância do achado, alguns especialistas pedem cautela. Zeray Alemseged, paleoantropólogo da Universidade de Chicago, sugere que os dentes poderiam pertencer a sobreviventes tardios de A. afarensis. Segundo ele, apenas a descoberta de um crânio completo poderá esclarecer as dúvidas de forma definitiva.
Enquanto isso, o sítio de Ledi-Geraru continua sendo uma janela promissora para o passado, com potencial para revelar não apenas os segredos da origem do gênero Homo, mas também o fim da era dos Australopithecus.