Descoberta de oficina de 9.000 anos no Senegal revela a vida dos últimos caçadores-coletores da África Ocidental

Em comparação com a Europa, a Ásia e partes do sul e do leste da África, a pré-história da África Ocidental permaneceu por muito tempo enigmática. As duras condições climáticas e geológicas destruíram grande parte dos vestígios estratificados da região, que são essenciais para a interpretação dos padrões de ocupação e das mudanças culturais.
O sítio arqueológico Ravin Blanc X, descoberto em 2017 pela equipe de Eric Huysecom, da Universidade de Genebra, é, portanto, excepcional. Apesar de cobrir apenas 25 metros quadrados, seu depósito profundo, preservado sob uma camada neolítica posterior, fornece uma das melhores representações já obtidas da vida na região durante o início do Holoceno.

Escavações realizadas por pesquisadores da Universidade de Genebra, em colaboração com o Institut Fondamental d’Afrique Noire, revelaram os vestígios de uma oficina de lascamento de quartzo e de uma lareira. Embora nenhuma ferramenta acabada tenha sido deixada para trás, os arqueólogos recuperaram pilhas de resíduos de produção — lascas e núcleos descartados da fabricação de utensílios. Ao reconstituírem os fragmentos, os especialistas puderam reconstruir as técnicas utilizadas, o processo de seleção de quartzo de alta qualidade e o nível de habilidade empregado.

A pesquisa revelou que esses caçadores-coletores desenvolveram pequenas ferramentas de pedra, ou micrólitos, utilizadas como armas de caça. O grau de padronização dessas ferramentas era elevado, comparável ao de outros sítios da savana da África Ocidental, o que sugere tradições compartilhadas entre grupos dispersos. Já os sítios descobertos mais ao sul, em zonas de floresta tropical, exibem métodos menos uniformes e abordagens mais oportunistas na confecção de ferramentas. Essas diferenças refletem adaptações culturais já distintas, moldadas pelos contextos ambientais.
A descoberta de Ravin Blanc X também destaca o esforço interdisciplinar necessário para reconstruir o passado. O carvão da lareira foi analisado por especialistas para determinar que tipo de madeira havia sido queimada, enquanto geomorfólogos, sedimentólogos e paleoambientalistas estudaram solos e restos vegetais para interpretar a paisagem. A reunião desses achados nos oferece uma visão tanto das capacidades técnicas quanto das condições ecológicas que moldaram o cotidiano dessas comunidades pré-históricas.

A pesquisa aponta para um momento crítico na história, quando a vida dos caçadores-coletores começava a dar lugar, gradualmente, às práticas emergentes de produção de cerâmica, criação de animais e agricultura. No entanto, na África Ocidental, esse processo ocorreu de forma diferente de qualquer outro lugar, deixando apenas vestígios dispersos das pessoas que habitaram a região.
O estudo, publicado na revista PLOS One, foi realizado por instituições da Suíça, Senegal, França e Alemanha.
Mais informações: Pruvost, C., Huysecom, E., Garnier, A., Hajdas, I., Höhn, A., Lespez, L., … Mayor, A. (2025). A Later Stone Age quartz knapping workshop and fireplace dated to the Early Holocene in Senegal: The Ravin Blanc X site (RBX). PLOS One, 20(9), e0329824. doi:10.1371/journal.pone.0329824