Dúvidas sobre a presença de água no objeto interestelar 3I/ATLAS: A interpretação de que é um cometa continua “incerta”

Um dos artigos (acessível aqui) baseou-se em espectroscopia óptica e infravermelha do 3I/ATLAS, obtida com os telescópios Gemini-Sul e o IRTF da NASA. Os dados sugerem um espectro com tonalidade avermelhada, semelhante à dos asteroides do tipo D, o que indica que a superfície sólida do objeto poderia ser responsável pela coloração observada. Nesse cenário, o objeto teria um diâmetro de aproximadamente 20 quilômetros.
No entanto, essa estimativa entra em conflito com a quantidade de material rochoso disponível no espaço interestelar, o que coloca em dúvida a possibilidade de que 3I/ATLAS seja um asteroide natural.
O outro estudo (acessível aqui) também conclui que o objeto poderia conter água, mas se baseia em um modelo que mistura 70% de material rochoso e 30% de partículas de água. Embora esse modelo pareça se ajustar aos dados obtidos, ao compará-lo com os dados reais, observam-se diferenças importantes. Por exemplo, as características do modelo e dos dados não coincidem em algumas áreas-chave. Além disso, os pesquisadores não realizaram um teste estatístico adequado para demonstrar que esse modelo realmente se ajusta melhor aos dados do que uma opção mais simples, como uma linha suave que não inclui água.

Apesar dessas discordâncias, ambos os estudos afirmam a detecção de água no objeto, o que levou alguns cientistas a sugerir que a interpretação dos dados poderia estar influenciada pelo pensamento convencional, que associa 3I/ATLAS a um cometa rico em água.
“Mesmo ao analisar dados, alguns cientistas tiram conclusões firmes sem uma base estatística sólida, simplesmente porque essas conclusões se encaixam no pensamento tradicional de que 3I/ATLAS é um cometa rico em água”, explica o astrofísico Avi Loeb em uma publicação de seu blog. “Sim, é seguro afirmar que se detectou o esperado, mas a curiosidade genuína pelo inesperado é muito mais valiosa, pois nos permite ser honestos e descobrir algo novo.”
A natureza de 3I/ATLAS continua incerta. Sua trajetória suspeita pelo sistema solar e sua possível interação com o cinturão de asteroides levaram alguns especialistas, como Loeb, a especular que poderia se tratar de um objeto artificial. A probabilidade de que 3I/ATLAS seja uma nave interestelar ganhou relevância devido ao seu alinhamento improvável com o plano da eclíptica (probabilidade de 0,2%) e sua passagem próxima a planetas como Marte, Vênus e Júpiter (probabilidade de 0,0005%).
Para determinar se esse visitante cósmico é um cometa de origem natural ou um objeto tecnológico, os cientistas precisam continuar coletando dados.
“Naquilo que chamei de ‘escala Loeb’, onde o ‘0’ se refere a um cometa definitivamente natural e o ‘10’ implica um objeto definitivamente artificial, atualmente classifico 3I/ATLAS como um ‘4’. À medida que coletarmos mais dados sobre 3I/ATLAS nos próximos meses, minha classificação poderá cair para ‘0’ ou subir para ‘10’”, concluiu Loeb.
O mistério continua, e com mais dados recém-disponíveis no final de novembro — quando o objeto deixar de estar eclipsado pelo Sol — os pesquisadores poderão ajustar suas teorias e chegar a uma resposta mais precisa.
No entanto, o que está claro é que a curiosidade científica e a análise rigorosa dos dados são cruciais para compreender o desconhecido.
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