Colisão catastrófica com um planeta vizinho pode ter trazido a vida para a Terra

Por décadas, cientistas teorizaram sobre o impacto entre a Terra primitiva e um protoplaneta do tamanho de Marte, chamado Theia. Essa colisão, há mais de 4 bilhões de anos, é a explicação mais aceita para a formação da Lua, a partir dos escombros gerados.
Novas pesquisas, porém, publicadas nas revistas Science Advances e Icarus, sugerem que Theia não apenas criou nosso satélite, mas também trouxe os componentes básicos para a vida na Terra.
“Concluímos que o impactador que formou a Lua, Theia, se originou mais distante no sistema solar do que a Terra e era rico em voláteis”, explica Pascal Kruttasch, autor principal de um dos estudos.
Os voláteis são compostos químicos que se vaporizam com facilidade, como o hidrogênio e o carbono, considerados os blocos fundamentais da vida. Nas proximidades do Sol, onde a Terra se formou, as altas temperaturas impediam que esses materiais se condensassem. Já nas regiões mais frias e distantes do sistema solar, os voláteis eram abundantes.

A equipe de Kruttasch utilizou modelos químicos para examinar isótopos em meteoritos e rochas terrestres, concentrando-se na desintegração radioativa do manganês em cromo. Esse método lhes permitiu rastrear com precisão os primeiros 15 milhões de anos da formação do sistema solar e concluir que os voláteis da Terra devem ter chegado a partir de uma fonte externa massiva como Theia.
Essa ideia tem profundas implicações para a busca de vida extraterrestre. “Isso deixa claro que a habitabilidade no universo não é, nem de longe, algo comum”, comentou o coautor Klaus Mezger. A vida em exoplanetas semelhantes à Terra poderia ser extremamente rara se não tivessem passado por um evento de impacto semelhante.
De forma independente, outra pesquisa baseada em simulações sugere que Theia também foi responsável por trazer uma grande quantidade de água ao nosso planeta. O mais surpreendente é que parte dessa água ainda poderia estar presente no manto terrestre.

“A água é menos densa do que os materiais que normalmente se encontram no manto da Terra, e supunha-se que ela deveria ter chegado à crosta ou aos oceanos”, aponta Pedro Machado, coautor deste segundo estudo. A simulação propõe que Theia entregou grande parte dessa água ao manto da Terra primitiva, “e não houve tempo para que essa água chegasse à superfície”.
Ambos os estudos, embora realizados separadamente, reforçam a mesma ideia: o violento choque que poderia ter aniquilado nosso jovem planeta foi, paradoxalmente, o evento que semeou as bases de tudo o que vive hoje.