Alguns hackers são motivados por incentivos financeiros, outros são impelidos por motivações ideológicas, engajando-se em conflitos de informações, e há também aqueles que buscam revelar a verdade sobre segredos militares, tornando-a acessível ao público em geral.
Entretanto, estas motivações não se aplicam a Gary McKinnon, um hacker escocês cuja extradição foi alvo da busca por parte de Washington por uma década. O objetivo subjacente a todas as suas atividades de invasão em redes altamente sigilosas era encontrar indícios da existência de vida extraterrestre.
No ano de 2001, Gary McKinnon, um indivíduo pouco conhecido, porém altamente habilidoso na área da computação, dedicou-se à exploração de informações relacionadas a OVNIs nos sites do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, enquanto se encontrava no recinto de um quarto de dormir na residência da tia de sua namorada, localizada na região norte de Londres.
Aproximadamente um ano após esse acontecimento, o cidadão escocês, à época com 35 anos de idade, foi capturado e, como resultado, os Estados Unidos deram início a uma demanda pela sua extradição, processo este que se estendeu ao longo de uma década.
O desfecho dessa narrativa foi determinado pela então ex-primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e tal resolução desencadeou um incidente diplomático entre as nações de Washington e Londres. Como resultado dessa controvérsia, o hacker permaneceu sob jurisdição britânica.
Gary McKinnon hackeou uma centena de computadores altamente secretos em busca de vestígios de civilizações extraterrestres. Foto: Tal Cohen / ZUMA Press / Globallookpress.com
Gary McKinnon demonstrou seu interesse na área de segurança da computação após a leitura do livro "Hacker's Handbook" escrito por Hugo Cornwall em 1985, quando contava com a idade de 19 anos.
Anteriormente, aos 14 anos, recebeu seu primeiro computador como presente e, como é comum na adolescência, concentrou-se inicialmente nos jogos disponíveis no dispositivo. Contudo, seu interesse logo se voltou para o campo da programação.
"Durante o período aproximado entre os 14 e os 17 anos de idade, fui arrebatado pela curiosidade e dediquei-me intensamente ao estudo da programação, escrevendo meus próprios jogos. Minha paixão se estendia também à área de gráficos e inteligência artificial". Gary McKinnon.
No período em que tinha 17 anos de idade, Gary McKinnon experimentou uma breve diminuição de interesse em computadores, uma vez que passou a frequentar estabelecimentos como bares com seus amigos.
Contudo, em breve, uma pessoa (que McKinnon não consegue recordar com precisão) sugeriu a ele que considerasse explorar profissionalmente a área de tecnologia da informação.
Embora não tenha obtido êxito em obter um diploma na Universidade do Norte de Londres, ele adquiriu o conhecimento essencial para sua carreira como programador durante o período em que esteve matriculado na instituição.
Falhas na segurança
Por volta da virada do século, Gary McKinnon desenvolveu interesse na prática do hacking. Nesse período, ele já havia desenvolvido uma convicção sólida de que não apenas alienígenas visitam o planeta Terra, mas também deixam artefatos como evidência de sua presença.
O hacker sustenta a afirmação de que o governo dos Estados Unidos está diligentemente ocultando tais artefatos, postura que ele mantém inalterada até os dias atuais.
"Eu sabia que os governos estavam ocultando tecnologias antigravitacionais, energia livre e tudo o mais obtido de alienígenas. Eu acreditava que tudo isso não deveria ser mantido em segredo em um mundo onde idosos não podem pagar suas contas de aquecimento", explicou McKinnon anos depois, justificando seus princípios.
Gary McKinnon desenvolveu seu interesse pela ufologia já na idade adulta, suspeitando que as autoridades estavam ocultando tecnologias de origem extraterrestre. Crédito da imagem: The Hybrid Secret.
Durante os períodos noturnos, o indivíduo em questão procedia com a infiltração na rede, percorrendo distintas seções, com pleno conhecimento do que almejava encontrar: documentos governamentais sigilosos que corroborassem suas convicções.
McKinnon desenvolveu autonomamente um software em Perl, uma linguagem de programação menos difundida nos dias atuais, que possibilitava o "rastreamento" em busca de senhas remanescentes expostas em até 65 mil computadores, em um lapso inferior a 8 minutos.
De forma surpreendente, ele detectou que alguns dispositivos poderiam ser comprometidos através do chamado "login vazio" do administrador do sistema, no qual bastava inserir o nome de usuário "admin" e deixar o campo de senha em branco.
Em certos casos, quando não encontrava informações de interesse nos sistemas remotos, McKinnon deixava anotações eletrônicas para os administradores, contendo expressões como: "Sua segurança é inadequada".
O intervalo entre o primeiro e o último ato de hacking, que foi considerado verdadeiramente relevante, abrangeu um período um pouco superior a um ano.
De acordo com os registros do processo criminal, tal período estendeu-se desde 1º de fevereiro de 2001 até 19 de março de 2002.
Nesse período, o hacker britânico conduziu atividades de exploração em 97 computadores pertencentes a notáveis entidades confidenciais dos Estados Unidos, incluindo o Departamento de Defesa e a NASA.
O que McKinnon encontrou?
No rol de prioridades de McKinnon, a NASA ocupava a posição mais alta.
Ele logrou obter acesso à rede interna ao descobrir endereços IP do Johnson Space Center que estavam acessíveis publicamente.
Posteriormente, ele realizou uma invasão utilizando o protocolo Windows NetBIOS, o qual apresentava falhas de segurança naquela época e era empregado nos sistemas computacionais da NASA.
O mesmo método foi aplicado para invadir as redes da Marinha, do Exército e do Pentágono.
Antes de sua detenção, McKinnon conseguiu realizar a análise de 97 computadores pertencentes ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos e à NASA.
Durante as entrevistas concedidas ativamente por Gary McKinnon enquanto aguardava seu caso de extradição, ele reiteradamente expressou suas declarações, mantendo a consistência em seu testemunho sem apresentar mudanças significativas.
McKinnon frequentemente mencionava o projeto "Disclosure" (Divulgação), no qual aproximadamente 400 indivíduos, abrangendo desde despachantes de voo até funcionários responsáveis pelos lançamentos de mísseis nucleares, supostamente compartilharam informações sobre a aplicação e o comportamento em condições reais de tecnologias de engenharia obtidas de naves alienígenas capturadas ou destruídas.
"O Incidente em Roswell em 1947 foi o primeiro contato com seres extraterrestres. Eu presumo que houve outros contatos. As pessoas cujos testemunhos li forneceram evidências bastante sólidas da existência de OVNIs", afirma McKinnon com convicção.
Conforme as declarações do hacker, há uma instalação denominada "Estrutura 8" localizada no Johnson Space Center.
Segundo o depoimento do hacker britânico, os funcionários que atuam nessa área estão envolvidos no processo de retificação de imagens de satélite em alta resolução, com o propósito de eliminar qualquer indício da presença de inteligência extraterrestre na órbita da Terra ou em sua superfície.
"Eu obtive acesso aos sistemas dessa instalação e consegui obter acesso aos arquivos desse departamento. Dentro desses arquivos, encontrei vastas imagens de alta resolução, apresentando tanto imagens processadas quanto não processadas, e incluindo aquelas com filtros aplicados e não aplicados. No entanto, devido à lentidão de minha conexão, não pude efetuar o download de nenhum desses arquivos. Contudo, em uma única ocasião, consegui visualizar rapidamente uma das imagens em baixa resolução. Tratava-se de um objeto prateado em formato de charuto, com cúpulas geodésicas presentes em ambos os lados. Notavelmente, não foram identificadas costuras ou rebites visíveis", relembra McKinnon, lamentando que sua conexão tenha sido interrompida por terceiros, resultando na não preservação da imagem em sua pasta de arquivos temporários.
Além disso, ele alegou ter obtido acesso a várias planilhas eletrônicas. Uma delas tinha o título "Unearthly officers" e continha nomes e patentes de militares da Força Aérea dos EUA que não estavam registrados em nenhum outro lugar.
Essa planilha também continha informações sobre transferências de membros da tripulação de uma aeronave para outra, no entanto, McKinnon não conseguiu encontrar menções a essas aeronaves em nenhum outro local.
Gary McKinnon afirmou: "Eu deveria obter provas concretas. E eu as obtive."
As descobertas tiveram um impacto significativo na vida do hacker, praticamente consumindo toda a sua atenção.
Ele recorda esse período como uma "obsessão doentia" e admite, com certo constrangimento, que negligenciou sua higiene pessoal, interrompeu suas atividades sociais e deixou de se encontrar com amigos.
O relacionamento com sua namorada chegou ao fim, embora eles continuassem a compartilhar o mesmo apartamento em Londres.
Inicialmente, ao hacker foi prometida uma sentença de trabalhos comunitários.
Em 19 de março de 2002, Gary McKinnon foi detido pelo National High Tech Crime Unit do Reino Unido.
O próprio McKinnon afirmou que a NASA entrou em contato com os investigadores britânicos pela primeira vez em novembro de 2001, a partir desse momento o hacker foi submetido a monitoramento por diversos meses.
Após a prisão, McKinnon ficou detido por aproximadamente seis horas, durante as quais ocorreram buscas tanto em sua residência quanto na casa de sua namorada, resultando na apreensão de diversos computadores sob sua posse.
Parte dos discos rígidos apreendidos foram enviados para análise nos Estados Unidos.
McKinnon admitiu a autoria de suas ações, não apenas por reconhecer o erro que havia cometido, mas também por causa de uma confusão relacionada com os fusos horários.
O hacker, que residia no Reino Unido, inadvertidamente se conectou a um computador nos Estados Unidos durante o horário de trabalho. Como consequência, o proprietário desse computador notou movimentos do cursor na tela, mesmo sem ter feito qualquer interação com o mouse.
Ademais, McKinnon utilizou seu próprio endereço de e-mail para efetuar o download de uma cópia de teste de um programa empregado por administradores de TI para acesso remoto a computadores comprometidos.
O dilema surgiu pois, nesse momento, os discos rígidos com todos os registros de conexões estavam sob investigação por peritos criminais e, por algum motivo, os investigadores do Scotland Yard prometeram a McKinnon uma sentença branda, possivelmente incluindo prisão por alguns meses ou mesmo trabalho comunitário.
Durante o verão de 2002, ocorreu um período de investigação preliminar enquanto Gary McKinnon permanecia em liberdade.
Em agosto, ele foi convocado para um novo interrogatório, no qual foi revelado que especialistas britânicos haviam se reunido com investigadores dos Estados Unidos, que comunicaram suas intenções de solicitar a extradição de McKinnon.
Essa notícia provocou uma mudança significativa na abordagem dos investigadores britânicos, que agora consideravam uma séria possibilidade de aplicação de pena de prisão contra o hacker.
Em outubro de 2002, o Tribunal de Nova Jersey emitiu um mandado de prisão para o cidadão britânico, apresentando formalmente acusações de crimes cibernéticos em 14 estados dos Estados Unidos, com sete acusações específicas.
Cada uma dessas acusações acarretava uma potencial pena de até dez anos de prisão. Após um período de aproximadamente um ano e meio, um pedido de extradição foi encaminhado a Londres.
Dez anos de luta contra a justiça.
Em 2004, o governo dos Estados Unidos solicitou novamente a extradição de Gary McKinnon, e um ano após, ele foi detido em Londres (apesar disso, conseguiu ser libertado mediante pagamento de fiança).
Após um curto período de audiências, o então Ministro do Interior, John Reid, aprovou a extradição do hacker.
As dificuldades persistiram para o britânico: inicialmente, ele perdeu um recurso no tribunal e, posteriormente, na Câmara dos Lordes. Em 25 de agosto de 2008, a defesa finalmente apresentou argumentos convincentes: profissionais médicos diagnosticaram Gary McKinnon com a Síndrome de Asperger.
Três dias após o diagnóstico, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu que esse diagnóstico não impediria a extradição de McKinnon. No entanto, nesse ponto, seus familiares interferiram no caso, afirmando que McKinnon poderia correr risco de cometer suicídio se fosse entregue aos Estados Unidos.
A narrativa rapidamente assumiu uma conotação política, com o Comitê Especial de Assuntos Internos da Câmara dos Comuns solicitando uma "revisão abrangente" do tratado de extradição entre os Estados Unidos e o Reino Unido.
Em 2009, David Cameron, então líder da oposição, caracterizou McKinnon como um "jovem vulnerável, cuja extradição para milhares de milhas longe de casa e de seus entes queridos não se coaduna com o princípio de compaixão".
A figura central dessa campanha foi a mãe de McKinnon, Janis Sharp, que, posteriormente, escreveria um livro relatando sua luta em defesa de seu filho.
O caso do hacker tornou-se um dos temas de maior destaque, sendo amplamente coberto pela mídia, objeto de discussões entre ministros e parlamentares britânicos, enquanto Washington aguardava a extradição há vários anos, em meio a um clima de tensão.
Enquanto alguns políticos britânicos advogavam pela extradição do hacker, outros defendiam sua permanência no país e havia ainda aqueles que propunham um julgamento interno.
É relevante destacar que McKinnon não cometeu nenhum crime contra a Coroa Britânica; suas ações foram restritas a invasões de estruturas americanas, sem apropriação de informações ou divulgação de segredos.
No início da década de 2010, parecia que o cibercriminoso finalmente enfrentaria um julgamento. Entretanto, de forma inesperada, a então Ministra do Interior do Reino Unido, Theresa May, recusou a extradição.
Em sua declaração perante a Câmara dos Comuns, May afirmou que a extradição provavelmente induziria McKinnon ao suicídio.
Durante uma coletiva de imprensa convocada após o anúncio, a mãe do hacker expressou que a década de luta foi comparável a uma "montanha-russa emocional" nos Estados Unidos. Seu filho ficou inarticulado ao tomar conhecimento da decisão da Ministra do Interior.
"Nós nos abraçamos e ele chorou", recordou ela. Nos últimos meses, ela explicou que McKinnon sentia-se como se "tivesse perdido tudo": "Ele não tinha emprego. Ele não tinha filhos. Ele não tinha nada".
Após ser libertado, McKinnon adotou um estilo de vida tranquilo. Entretanto, é inegável que ele está impossibilitado de ingressar nos Estados Unidos, pois seria detido lá, e, em geral, evita sair do Reino Unido.
Nos últimos anos, ele tem participado ativamente de debates na imprensa sobre assuntos relacionados a extraterrestres e lamenta ainda que, em 2001, devido a uma conexão de internet deficiente, não tenha conseguido salvar fotografias que corroborariam os supostos contatos da humanidade com outras civilizações.