40.000 artefatos celtas e uma rara estatueta de guerreiro em bronze foram descobertos

O guerreiro, com apenas 7,5 centímetros de altura e 55 gramas, aparece em posição de ataque, empunhando espada e escudo. Um aro na cabeça indica que provavelmente foi usado como pingente. Apesar do tamanho reduzido, a peça é extremamente complexa, produzida pela técnica de fundição em cera perdida. Radiografias do Escritório Estadual de Preservação de Monumentos da Baviera (BLfD) confirmaram a fundição maciça em bronze, revelando detalhes ocultos sob a corrosão.
Seu design incomum intriga estudiosos: a figura parece usar uma armadura no peito, mas está nua da cintura para baixo — algo que alguns especialistas relacionam a representações gregas de coragem e masculinidade. A função do objeto — ornamento, peça espiritual ou objeto ritual — permanece incerta, mas o uso do metal evidencia a habilidade dos artesãos celtas. “Esta estatueta de 75 milímetros e 55 gramas é extremamente intrincada e detalhada”, afirmou Thomas Stöckl, restaurador do BLfD, em apresentação à imprensa.

As escavações, realizadas entre 2021 e 2024 em uma área de 6.800 m², documentaram 1.300 estruturas arqueológicas, revelando vestígios de planejamento urbano, com zonas residenciais e oficinas. Foram recuperados mais de 15.000 objetos metálicos, muitos fragmentos de reciclagem da metalurgia. Antes da conservação, todos foram escaneados em detalhe — 2.034 imagens no total —, permitindo estudos sobre técnicas de fabricação e materiais. Pela primeira vez, também foram encontrados ossos e escamas de peixe, confirmando que a dieta celta incluía carne bovina e suína, grãos e peixe. Cavalos eram abatidos apenas em idade avançada, usados sobretudo para trabalho. Ovelhas e cabras forneciam principalmente lã e leite, e não carne.

Outro achado relevante foi um depósito ritual dentro de uma caixa, datado entre 120 e 60 a.C., com restos de ao menos três pessoas, ossos de animais, 32 objetos metálicos e fragmentos de mais de 50 recipientes cerâmicos. O diretor da escavação, Sebastian Hornung, da Pro Arch Prospektion und Archäologie GmbH, classificou a descoberta como “extraordinária” pela preservação de dois esqueletos quase completos no mesmo contexto.
Manching foi ocupada no final do século IV a.C. e, no século II a.C., já era um importante centro político e econômico ao norte dos Alpes. No auge, chegou a ocupar 400 hectares e abrigar até 10.000 habitantes — maior, à época, que a Nuremberg medieval. Contudo, entrou em declínio por volta de meados do século I a.C.

Embora seja um dos assentamentos celtas mais estudados da Europa Central, apenas 12% do sítio foi explorado. “A riqueza dos achados recentes mostra como era organizada a ocupação da Idade do Ferro tardia: como as pessoas viviam, trabalhavam, se alimentavam, com quem mantinham relações comerciais e quais técnicas haviam desenvolvido”, declarou Mathias Pfeil, conservador-geral do BLfD.
Manching já havia rendido outras descobertas notáveis. Em 1999, arqueólogos encontraram um tesouro com 483 moedas de ouro e um lingote de 3,7 quilos. Preservado em um museu local, o tesouro foi roubado em 2022. Uma quadrilha foi condenada no início deste ano, mas o ouro segue desaparecido — fragmentos derretidos sugerem que pode ter sido perdido para sempre.

Com a conclusão da última escavação, os novos artefatos serão incorporados às coleções estaduais para estudo.
Mais informações: Escritório Estadual da Baviera para a Preservação de Monumentos Históricos