Frascos de óleo fenícios revelam o papel do perfume na identidade e no intercâmbio cultural no Mediterrâneo

Os recipientes — garrafas simples e estreitas, com 15 a 18 centímetros de altura — foram usados entre os séculos VIII e VI a.C. e encontrados em casas, cemitérios e áreas sagradas, indicando múltiplos usos em uma ampla região. Análises do material cerâmico mostram que sua produção começou no sul da Fenícia, em uma área que se estendia da atual Beirute até a costa do Carmelo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEA análise de resíduos orgânicos revelou mais detalhes: oito frascos continham vestígios de óleos vegetais misturados a resinas de pinho e mástique, substâncias tradicionalmente ligadas ao perfume e à conservação. Isso indica fortemente que transportavam unguentos aromáticos. Esses óleos não eram apenas mercadorias, mas também vínculos com tradições da terra natal. Para os fenícios que fundavam comunidades pelo Mediterrâneo, funcionavam como ligações sensoriais à origem, reforçando práticas comuns entre povos dispersos e, ao mesmo tempo, sendo trocados com populações locais.
Conhecidos como grandes navegadores e comerciantes, os fenícios também inovaram na difusão de práticas culturais. As substâncias aromáticas tinham papel central tanto na vida cotidiana quanto nos rituais, e sua circulação ajudava a criar laços entre migrantes e grupos autóctones. Em Mótia, a presença contínua desses frascos por mais de dois séculos sugere um fornecimento regular de uma tradição reconhecível de produtos, com valor prático e simbólico.

Esses recipientes foram usados não apenas em comunidades fenícias, mas também apareceram em contextos de elite entre povos não fenícios. Sua presença nesses ambientes indica que os óleos perfumados passaram a integrar estratégias de construção de alianças e de projeção de influência para além de suas próprias comunidades. Assim, o uso de perfumes foi fundamental nas interações interculturais e ajudou a difundir práticas fenícias por todo o Mediterrâneo ocidental.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEO estudo insere essas descobertas no contexto mais amplo da história da Idade do Ferro. O desaparecimento dos frascos tem sido frequentemente associado à ascensão de Cartago, mas os pesquisadores agora sugerem que a instabilidade no Levante, especialmente durante o período neobabilônico, pode ter interrompido tanto a produção quanto o comércio. Essas mudanças políticas e econômicas ajudariam a explicar a redução na circulação desses recipientes no final do século VI a.C.
Além dos achados imediatos, a pesquisa mostra o valor de explorar os aspectos sensoriais do passado. Migração e intercâmbio cultural não envolviam apenas o movimento de pessoas e bens, mas também fatores intangíveis, como cheiro, memória e experiência sensorial. Os aromas — difíceis de preservar, mas marcantes na construção da identidade — faziam parte da forma como comunidades levavam seu patrimônio para novas terras.
Com o uso de métodos científicos avançados, os arqueólogos iluminaram um aspecto antes negligenciado da vida antiga. As peças de Mótia lembram de maneira vívida que o passado não era apenas visto e ouvido, mas também sentido pelo olfato, com perfumes atuando como um fio invisível que unia povos e lugares distantes através do Mediterrâneo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEMais informações: Orsingher, A., Solard, B., Bertelli, I. et al. (2025). Scents of Home: Phoenician Oil Bottles from Motya. Journal of Archaeological Method and Theory, 32, 59. doi:10.1007/s10816-025-09719-3
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