Vítimas de terremoto do século IV em Heraclea Sintica revelam cuidado com pessoas com deficiência no mundo romano

A descoberta, feita no canto sudoeste do fórum romano da cidade, oferece um vislumbre do impacto humano de um desastre que contribuiu para o declínio de Heraclea Sintica.
Heraclea Sintica prosperou durante o domínio grego e, posteriormente, romano, graças à sua localização estratégica ao longo do rio Struma e das colinas de Kozhuh. O fórum, centro da vida cívica, era ladeado por edifícios monumentais e por cisternas de água. Em algum momento, no final do século IV, um terremoto devastador — parte de uma série de abalos sísmicos que atingiu o Mediterrâneo Oriental — causou danos catastróficos, incluindo o colapso de duas cisternas com abóbadas de tijolos.
Sob uma das cisternas desmoronadas, a cerca de seis metros de profundidade, arqueólogos encontraram os restos mortais de cinco homens — identificados como 2N, 3N, 1S, 2S e 3S — deitados de costas entre os escombros. Um sexto esqueleto, 1N, foi descoberto em um nível mais alto, separado por solo e destroços, sugerindo que ele poderia estar em outra estrutura ou tentando prestar socorro quando a abóbada ruiu. As vítimas tinham entre 18 e 35 anos, e seus ferimentos — incluindo fraturas no crânio, nas costelas e em ossos longos — são compatíveis com morte instantânea ou quase instantânea, causada pela queda de objetos ou por uma queda de grande altura.
Entre os esqueletos, o identificado como 2N chamou atenção por um motivo especial. A análise feita por Vanya Russeva e Lilia Manoilova, do Instituto de Morfologia Experimental, Patologia e Antropologia da Academia de Ciências da Bulgária, revelou que esse jovem, com idade estimada entre 18 e 25 anos, provavelmente sofria da síndrome de Apert — uma rara condição congênita caracterizada por deformidade craniana, fenda palatina e outras anomalias esqueléticas. Esse distúrbio teria causado deficiência física e possivelmente dificuldades intelectuais, exigindo cuidados constantes desde o nascimento.

Apesar dessas limitações, o jovem viveu até a idade adulta — um fato que, segundo os cientistas, reflete a empatia e o apoio que ele provavelmente recebeu.
Curiosamente, um segundo crânio, identificado como 2\_3N, também apresentou fenda palatina, levantando a possibilidade de uma relação de parentesco entre os dois homens. Caso essa hipótese seja confirmada por futuros testes de DNA, a descoberta não apenas revelará informações sobre doenças genéticas no mundo antigo, mas também sobre as estruturas sociais que permitiam a sobrevivência de pessoas com deficiência no Império Romano.

A ausência de quaisquer pertences pessoais, ferramentas ou vestimentas nos corpos deixa desconhecidas as ocupações e o status social das vítimas. O fato de não terem sido enterradas sugere que a cisterna nunca foi limpa — possivelmente porque ninguém sabia que os corpos estavam lá dentro. A população de Heraclea Sintica diminuiu após o terremoto, e outro grande sismo no século V levou ao seu eventual abandono.
Achados comparáveis, como os de vítimas de terremotos em Kourion, Chipre, e Eleutherna, Creta, frequentemente se concentram em edifícios desabados, e não nas pessoas que morreram. A descoberta em Heraclea Sintica é rara porque preserva os restos de várias pessoas em um único contexto de desastre, permitindo aos cientistas reconstruir tanto o momento do desastre quanto as narrativas pessoais das vítimas.
Mais informações: Russeva, V., & Manoilova, L. (2025). *The earthquake casualties from Heraclea Sintica – buried under debris of the portico of the Roman forum*. *Journal of Archaeological Science, Reports*, 66(105338), 105338. doi.org/10.1016/j.jasrep.2025.105338
Quer continuar acompanhando conteúdos como este? Junte-se a nós no Facebook e participe da nossa comunidade!
Seguir no Facebook