DNA antigo revela ascendência da África Ocidental em esqueletos do século VII encontrados na Inglaterra

As descobertas, publicadas na Antiquity, contradizem séculos de crenças tradicionais sobre a extensão das migrações e das conexões culturais na Alta Idade Média.
A descoberta vem da análise de DNA de dois sepultamentos em cemitérios anglo-saxões: um em Updown, no condado de Kent, no sudeste da Inglaterra, e outro em Worth Matravers, em Dorset, no sudoeste. A maioria dos indivíduos enterrados nesses locais tinha ascendência do norte da Europa ou das regiões ocidentais da Grã-Bretanha e Irlanda, como era comum. No entanto, uma pessoa em cada cemitério se destacou.
Em Updown, os pesquisadores analisaram o esqueleto de uma menina de 11 a 13 anos que foi enterrada com um vaso decorado de origem franca-gaulesa, uma colher possivelmente ligada a um ritual cristão, um pente de osso e outros objetos funerários. Em Worth Matravers, eles analisaram um jovem que foi enterrado junto com um homem mais velho e sem parentesco, com uma âncora feita de calcário local próxima ao corpo.
Em ambos os casos, o DNA mitocondrial — transmitido de mãe para filho — indicava ascendência do norte da Europa. Já o DNA autossômico revelou de 20% a 40% de afinidade genética com populações atuais Yoruba, Mende, Mandenka e Esan da África Ocidental subsaariana. Modelos estatísticos sugerem que cada indivíduo provavelmente tinha um avô paterno originário da região sul do Sahel, que pode ter chegado à Europa entre meados do século VI e o início do século VII d.C.

Esses resultados sugerem um movimento humano em pequena escala, mas significativo, conectando a Grã-Bretanha à Europa continental e, possivelmente, também à África — talvez por meio do Norte da África controlado pelo Império Bizantino e de redes de comércio de longa distância. “É significativo que seja o DNA humano — e, portanto, o movimento de pessoas, e não apenas de objetos — que esteja começando a revelar a natureza da interação de longa distância com o continente, com o Império Bizantino e com a África Subsaariana”, afirmou o professor Duncan Sayer, da Universidade de Central Lancashire, autor principal do estudo sobre Updown.
A menina foi enterrada em Kent durante o que Sayer chama de “Fase Franca” da região, período em que Kent mantinha intensos contatos com a Europa continental e com centros reais como Finglesham. Worth Matravers, no entanto, situava-se fora do núcleo da zona cultural anglo-saxônica. “O fascinante sobre esses dois indivíduos é que essa conexão internacional é encontrada tanto no leste quanto no oeste da Grã-Bretanha”, afirmou Sayer.

A Dra. Ceiridwen J. Edwards, da Universidade de Huddersfield, autora principal do estudo sobre Worth Matravers, afirmou que as descobertas “enfatizam a natureza cosmopolita da Inglaterra no início do período medieval, apontando para uma população diversificada, com conexões distantes, que, ainda assim, estava plenamente integrada ao tecido da vida cotidiana”.
A pesquisa enriquece a história ao mostrar que a Europa mantinha conexões com a África muito antes da Era das Grandes Navegações. Embora o Império Romano tivesse contato com o Norte da África, recrutando soldados e comercializando bens como ouro e marfim, as ligações com a África Subsaariana eram limitadas e pouco documentadas. Esses dois sepultamentos agora fornecem uma prova genética concreta dessas conexões.
Mais informações:
- Duncan Sayer et al. (2025). West African ancestry in seventh-century England: two individuals from Kent and Dorset, Antiquity. doi.org/10.15184/aqy.2025.10139
- M. George B. Foody et al. (2025). Ancient genomes reveal cosmopolitan ancestry and maternal kinship patterns at post-Roman Worth Matravers, Dorset, Antiquity. doi.org/10.15184/aqy.2025.10133
Quer continuar acompanhando conteúdos como este? Junte-se a nós no Facebook e participe da nossa comunidade!
Seguir no Facebook