Pompeia após o Vesúvio: arqueólogos descobrem séculos de reocupação pós-erupção

As descobertas são de escavações recentes na Insula Meridionalis, o bairro sul da cidade, que vai da Villa Imperiale ao Quadriportico dei Teatri. Essa área, parcialmente escavada pelo “Grande Projeto Pompeia” (2012–2023), é atualmente o local de um programa abrangente de segurança, consolidação e restauração. Paralelamente a isso, a escavação estratigráfica revelou extensas evidências de vida após 79 d.C. — características que escavações anteriores muitas vezes removiam na pressa de expor a cidade exatamente como era no momento da destruição.
Antes da erupção, Pompeia tinha uma população de aproximadamente 20.000 habitantes. O número de mortes, embora ainda seja objeto de alguma controvérsia, é estimado pelos arqueólogos em 15 a 20% da população, principalmente devido ao choque térmico. Alguns dos sobreviventes que não conseguiram recomeçar em outro lugar retornaram à cidade destruída. Posteriormente, foram acompanhados por recém-chegados — muitos de baixa posição social — atraídos pela oportunidade de ocupar vilas abandonadas ou buscar objetos de valor enterrados sob as cinzas.
As escavações sugerem que, inicialmente, as pessoas ocuparam os andares superiores dos edifícios que se projetavam sobre as cinzas, enquanto os andares inferiores enterrados foram reaproveitados como adegas. Os grandes espaços abobadados dos antigos horrea (armazéns) foram subdivididos em pequenas salas, fornos foram construídos para assar pão, e escadas foram erguidas para acessar janelas superiores. Evidências de produção de alimentos, incluindo uma pedra de moinho e outro forno construído dentro de uma cisterna reutilizada na Casa dos Mosaicos Geométricos, indicam uma economia de subsistência.

Os arqueólogos também recuperaram cerâmicas, moedas de imperadores sucessivos e até lâmpadas a óleo do século V com o monograma Chi-Rho, indicando duas principais fases de reassentamento: uma do final do século I ao início do século III d.C. e outra do século IV até meados do século V. Uma descoberta comovente foi o enterro de um recém-nascido datado entre 100 e 200 d.C.

Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, esclareceu que pesquisas anteriores frequentemente ignoravam esses vestígios porque o episódio marcante da destruição da cidade em 79 d.C. monopolizou a memória pública. Essa negligência, segundo ele, criou um “inconsciente arqueológico” em que Pompeia pós-erupção ficou amplamente invisível.
Autores antigos, como Suetônio e Cássio Dio, confirmam que dois ex-cônsules foram designados pelo imperador Tito para supervisionar a reconstrução da cidade com fundos provenientes das propriedades das vítimas que morreram sem herdeiros. Contudo, apesar do apoio imperial, o assentamento nunca recuperou a infraestrutura, a arquitetura pública ou a vitalidade de uma verdadeira cidade romana.
Na época de outra erupção, em 472 d.C. — pouco antes da queda do Império Romano do Ocidente — os últimos habitantes de Pompeia abandonaram o local. Hoje, um terço dos 22 hectares do sítio listado como Patrimônio Mundial da UNESCO permanece enterrado, mas as novas descobertas acrescentam um capítulo crucial à sua história: uma narrativa não apenas de destruição catastrófica, mas também de resiliência, adaptação e sobrevivência entre as ruínas.
Mais informações: E-Journal of the Excavations of Pompeii