A modificação craniana mais antiga da Europa é encontrada em caverna italiana.

A descoberta, datada de entre 12.190 e 12.620 anos atrás, sugere que o modelamento intencional da cabeça era praticado durante o final do Paleolítico Superior, recuando a origem dessa prática cultural europeia.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEO crânio, designado como Arene Candide 12 (AC12), foi descoberto na década de 1940 na caverna Arene Candide, um importante sítio arqueológico que caçadores-coletores usaram como cemitério entre aproximadamente 12.900 e 11.600 anos atrás. As escavações no local revelaram muitos esqueletos, incluindo alguns que haviam sido cuidadosamente dispostos durante elaborados rituais funerários. O AC12, que pertencia a um homem adulto, foi sepultado em um nicho acima de outra sepultura — conhecida como “Tumba dos Chifres” —, com sua mandíbula e outros restos encontrados separadamente nas proximidades.
Originalmente reconstruído na década de 1970, o formato alongado do crânio AC12 gerou controvérsia. Inicialmente, presumiu-se que fosse resultado de uma condição patológica ou de um trauma acidental na infância. No entanto, com novas evidências, os cientistas agora acreditam que se tratava de uma prática cultural deliberada e do mais antigo caso conhecido de modificação craniana artificial na Europa.
A modificação craniana artificial consiste em submeter o crânio de um bebê a pressão contínua durante sua fase de crescimento — geralmente por meio da amarração da cabeça com tecido ou de sua fixação a uma tábua rígida —, o que provoca uma alteração permanente no formato. O crânio AC12 parece ter passado por um processo de modificação anular, ou circunferencial, provavelmente obtido por meio de envolvimento apertado com tiras de tecido.
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Como o crânio havia sido colado durante sua reconstrução inicial, a equipe de pesquisa o desmontou virtualmente usando tomografias computadorizadas. Em seguida, realizaram quatro reconstruções digitais e compararam o AC12 a outros crânios por meio de morfometria geométrica — um método estatístico para o estudo de formas ósseas —, confrontando-o com crânios do Paleolítico Superior Final, Mesolítico e Neolítico da Itália, além de outros exemplos de modificação craniana artificial (MCA) de diferentes partes do mundo. Todas as análises posicionaram consistentemente o AC12 entre o grupo de crânios modificados intencionalmente, distinto tanto de crânios não modificados quanto daqueles alterados por doenças ou traumas.
As razões para a modificação craniana ainda são desconhecidas, embora se acredite que ela tenha servido como um sinal de identidade, status social ou afiliação a determinado grupo. Em Arene Candide, a presença de outras evidências — como indivíduos que usavam discos nas bochechas — sugere que a ornamentação corporal era praticada de formas variadas.

Essa descoberta coloca a modificação craniana artificial (MCA) na Europa muito antes do que se estimava anteriormente, alinhando-a com alguns dos exemplos mais antigos conhecidos no mundo. O registro mais antigo na Austrália data de cerca de 13.500 anos atrás, e na Ásia, de aproximadamente 11.200 anos atrás. Embora seja talvez mais conhecida na América Central e do Sul, onde persistiu por quase 10.000 anos, o novo estudo — publicado na Scientific Reports — demonstra que esse comportamento tem raízes paleolíticas na Eurásia.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADENovos estudos de DNA dos restos encontrados em Arene Candide poderão revelar se o formato peculiar da cabeça de AC12 indicava migração ou contato cultural com sociedades distantes. A prática pode ter se desenvolvido de forma independente em várias regiões ou ter se espalhado por meio de interações entre grupos. Em qualquer um dos cenários, o crânio AC12 é um testemunho impressionante da importância da modificação corporal na história humana.
Mais informações: Mori, T., Sparacello, V.S., Riga, A. et al. (2025). Early European evidence of artificial cranial modification from the Italian Late Upper Palaeolithic Arene Candide Cave. Scientific Reports 15, 27792. doi:10.1038/s41598-025-13561-8
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