O experimento que tentou provar a existência da telepatia.

Em 1927, um grupo de cientistas britânicos decidiu testar uma ideia ousada: seria possível transmitir pensamentos de uma mente para outra? A ferramenta escolhida para essa façanha não foi um cristal mágico, e sim a tecnologia mais moderna da época — o rádio.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADENo centro do experimento estava Sir Oliver Lodge, físico renomado e pioneiro da telegrafia sem fio. Além de suas contribuições para a física, Lodge era também espiritualista convicto e acreditava que a ciência ainda não compreendia totalmente os mistérios da consciência humana. Apoiado pela Society for Psychical Research (SPR), ele se propôs a responder uma grande questão: seria a mente humana capaz de enviar sinais, como um transmissor de rádio?
Naquela noite, seis voluntários foram trancados em uma sala em Tavistock Square, em Londres. Enquanto isso, mais de 25 mil pessoas em toda a Grã-Bretanha foram convidadas a sintonizar uma transmissão da BBC e tentar, literalmente, “ler mentes” ao vivo. O evento, noticiado por jornais como The New York Times e Gisborne Times, foi um dos mais ambiciosos experimentos públicos de telepatia em massa já realizados.
Dentro da sala lacrada, os participantes observavam uma série de objetos curiosos: cartas de baralho (como o dois de paus e o nove de copas), a gravura de um crânio humano cercado por pássaros, um ramo de lilases perfumados, e até um dos pesquisadores usando chapéu-coco e uma máscara cômica.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEDurante a transmissão, Lodge anunciava os momentos em que cada objeto era exibido, pedindo aos ouvintes que concentrassem a mente e enviassem seus palpites por carta. Nos dias seguintes, a SPR recebeu um volume impressionante de respostas — 25 mil cartas.
De acordo com V. J. Woolley, responsável por analisar os resultados, apenas poucos participantes acertaram. Somente cinco pessoas descreveram corretamente a imagem do crânio, e uma mencionou uma “cabeça humana”. Alguns associaram lilases a flores. No último item — o homem mascarado — os resultados chamaram mais atenção: 146 pessoas sentiram que havia uma pessoa presente, 236 disseram que alguém estava fantasiado, 202 citaram chapéus e 73 mencionaram máscaras ou rostos. Outras 499 pessoas relataram uma “sensação de diversão”.
Apesar das coincidências curiosas, os cientistas concluíram que os acertos podiam ter ocorrido por puro acaso. Woolley admitiu que os raros acertos estavam “afogados em uma grande massa de erros”. Além disso, o experimento apresentava falhas metodológicas sérias: não havia controle contra sugestões externas, o grupo de ouvintes não era aleatório, e o próprio Lodge insinuou, durante a transmissão, que o último objeto era “cômico” — o que pode ter influenciado as respostas.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEAinda assim, para o público da época — fascinado por rádios de cristal, sessões espíritas e o início da comunicação sem fio — a experiência unia o moderno e o místico de um modo encantador. Lodge, afinal, não era um mero sonhador. Foi ele quem aprimorou o coherer, componente essencial na recepção dos primeiros rádios. Mas sua crença no além o acompanhava desde a morte de seu filho na Primeira Guerra Mundial, o que o levou a investigar a vida após a morte em livros e palestras.
Sua reputação científica deu credibilidade ao evento. Lodge integrava também o The Ghost Club, sociedade vitoriana que contou com nomes como Sir Arthur Conan Doyle e parentes de Charles Darwin. Registros do University College London mostram que ele fazia parte de uma elite científica que frequentemente misturava inquérito empírico e fé espiritual.
Embora o experimento de 1927 não tenha provado a existência da telepatia, ele marcou uma época em que o rádio não era apenas entretenimento — era uma janela para o mistério, a esperança e a possibilidade de algo além da explicação científica. Décadas mais tarde, os Estados Unidos investiriam milhões de dólares em pesquisas militares sobre visão remota e percepção extra-sensorial, como revelaram documentos da CIA. O mágico e cético James Randi chegou a oferecer US$ 1 milhão a quem conseguisse demonstrar poderes psíquicos sob condições controladas. Ninguém jamais conseguiu.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADENo fim, a transmissão de 1927 foi menos sobre dados e mais sobre crença. Um raro momento em que ciência e maravilha se cruzaram — e em que 25 mil ouvintes, espalhados pelo Reino Unido, fecharam os olhos e tentaram, por alguns minutos, conectar suas mentes a desconhecidos trancados em uma sala distante.
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