Telescópio Gemini Sul detecta uma cauda anti-solar de 56 mil quilômetros em 3I/ATLAS

No momento da observação, 3I/ATLAS encontrava-se a 2,59 vezes a distância entre a Terra e o Sol. A cauda observada se estende por cerca de 56.000 quilômetros, enquanto sua coma (a atmosfera de gás e poeira ao seu redor) atinge um diâmetro de 18.800 quilômetros, mostrando um crescimento significativo desde as observações de julho de 2025.
Uma composição fora do comum
Essa descoberta se soma a uma lista crescente de anomalias que desconcertam os astrônomos. Dados coletados no início de agosto pelo telescópio espacial James Webb e pelo observatório SPHEREx confirmaram que 3I/ATLAS está cercado por uma imensa nuvem de gás dominada por dióxido de carbono (CO₂), com níveis surpreendentemente baixos de água (H₂O) e monóxido de carbono (CO).
As taxas de perda de massa estimadas são de 130 kg/s para o CO₂, em contraste com apenas 6,6 kg/s para a H₂O. Essa proporção, na qual a água representa apenas 5% da emissão de dióxido de carbono, é muito atípica para um cometa convencional do Sistema Solar, que geralmente é rico em gelo de água.
Uma cadeia de mistérios ainda sem solução
A natureza de 3I/ATLAS é um quebra-cabeça com um número cada vez maior de peças estranhas:
- Tamanho massivo: Dados do observatório SPHEREx sugerem um núcleo com diâmetro de 46 quilômetros. Se for um objeto sólido, sua massa seria um milhão de vezes maior que a do anterior cometa interestelar conhecido, 2I/Borisov, uma diferença de escala estatisticamente improvável.
- Atividade precoce: Pode ter estado ativo a uma distância de 6 vezes a separação Terra-Sol, um ponto onde a luz solar é fraca demais para sublimar o gelo de água.
- Trajetória anômala: Sua órbita está incomumente alinhada com o plano eclíptico, o plano no qual os planetas do nosso Sistema Solar orbitam.
- Química surpreendente: Espectros recentes do Very Large Telescope (VLT) detectaram cianeto e níquel sem a presença de ferro em sua coma. Na natureza, o níquel e o ferro geralmente aparecem juntos, pois se formam simultaneamente em supernovas. A presença de níquel sem ferro é uma assinatura associada a ligas de produção industrial.
À espera de respostasAlém daqueles que apressadamente transformam dados incompletos e surpreendentes em certezas, todas essas anomalias levantam uma pergunta fundamental: qual é a verdadeira origem e natureza de 3I/ATLAS?
A comunidade científica aguarda obter mais pistas para resolver o mistério à medida que o objeto se aproxime de seu periélio, o ponto mais próximo do Sol, em 29 de outubro de 2025. O aumento da radiação e a interação com o vento solar submeterão o objeto a um estresse máximo, um momento que poderá forçá-lo a revelar sua suspeita natureza de ser um raro cometa interestelar ou, talvez, algo ainda mais extraordinário.