Dentes de 4.000 anos revelam as primeiras evidências do hábito de mastigar noz de bétele no Sudeste Asiático

A descoberta foi feita no sítio funerário da Idade do Bronze de Nong Ratchawat, no centro da Tailândia, onde 156 sepultamentos humanos vêm sendo escavados desde 2003. Os pesquisadores analisaram 36 amostras de cálculo dental — placa mineralizada — de seis indivíduos. Usando cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa (LC-MS), detectaram compostos da noz de bétele nos molares de uma pessoa, uma jovem conhecida como “Sepultamento 11”.
Os químicos — arecolina e arecaidina — são os principais compostos psicoativos encontrados na noz de bétele. Enquanto o hábito comum de mastigar a noz costuma manchar os dentes de vermelho ou preto, esse indivíduo não apresentava nenhum desses sinais visíveis, demonstrando que práticas antigas podem não deixar rastros identificáveis. O estudo, publicado na revista Frontiers in Environmental Archaeology, é a primeira evidência química direta que confirma o uso da noz de bétele desse período.
O hábito de mastigar noz de bétele tem longa tradição no Pacífico e na Ásia, geralmente associado a contextos sociais, medicinais e cerimoniais. O consumidor normalmente mastiga a noz junto com a folha de bétele e cal hidratada — às vezes com tabaco — formando o que é chamado de “quid”. Esse estimulante provoca sensações de alerta, relaxamento e leve euforia.

Para validar suas descobertas, os cientistas primeiro criaram quids experimentais a partir de ingredientes tradicionais misturados com saliva humana, simulando o ato real de mastigar. As amostras controle foram usadas para confirmar a assinatura química da noz de bétele no cálculo dental antigo.
Embora evidências do hábito de mastigar tenham sido encontradas em apenas um sepultamento, os pesquisadores afirmam que a ausência dessas evidências em outros não descarta um uso mais amplo. As condições de preservação, a frequência do consumo e as alterações pós-morte podem influenciar a detecção. Os bens funerários, incluindo contas de pedra encontradas com o Sepultamento 11, podem indicar um significado pessoal ou cultural, mas não há indícios de que ela tivesse um status especial.

A técnica utilizada no estudo é minimamente invasiva e torna os materiais esqueléticos acessíveis para futuras pesquisas. Especialistas afirmam que ela tem o potencial de revolucionar a arqueologia ao revelar comportamentos que não deixam vestígios visíveis, como práticas medicinais e consumo de plantas.
Na Tailândia, o hábito de mastigar bétele declinou abruptamente após campanhas governamentais na metade do século 20, motivadas por preocupações de saúde, incluindo a associação com câncer bucal. No entanto, na maioria das sociedades rurais, a prática persiste como parte da tradição cultural.
A equipe planeja investigar outros sepultamentos no sítio arqueológico, com potencial para revelar novas pistas sobre o consumo de noz de bétele em tempos antigos e mais segredos sobre os modos de vida no Sudeste Asiático primitivo.
Mais informações: Moonkham, P., Tushingham, S., Zimmermann, M., Brownstein, K. J., Devanwaropakorn, C., Duangsakul, S., & Gang, D. R. (2025). Earliest direct evidence of bronze age betel nut use: biomolecular analysis of dental calculus from Nong Ratchawat, Thailand. Frontiers in Environmental Archaeology, 4(1622935). doi:10.3389/fearc.2025.1622935