Nada do que você vê é real: seu cérebro evoluiu para esconder a verdade de você, segundo psicólogo cognitivo

Na verdade, Hoffman afirma que nossas experiências sensoriais não foram feitas para nos mostrar a verdade sobre o mundo, e sim para garantir nossa sobrevivência e reprodução e, por isso, somos cegos à verdadeira natureza do universo.
As declarações foram feitas durante uma entrevista recente para o canal Diary of a CEO, onde Hoffman utilizou a metáfora de uma “realidade virtual” para descrever nossa percepção do mundo.
Segundo sua perspectiva, tudo o que experimentamos — desde os objetos ao nosso redor até as emoções e pensamentos — é uma construção interna criada pelo nosso cérebro. Assim como acontece em um videogame, no qual os jogadores interagem com um mundo virtual por meio de um dispositivo, nós estamos “jogando” em um universo fabricado pela nossa mente. Porém, diferentemente dos personagens de um jogo, que não têm conhecimento da máquina que os gera, nós estamos imersos nesse cenário sem termos consciência da vasta realidade que existe além da nossa percepção.
Hoffman explica que a evolução não ajustou nossos sentidos para captar a verdade sobre o mundo exterior, mas apenas para nos ajudar a sobreviver.
“A visão da verdade consome energia e tempo demais”, argumenta o psicólogo cognitivo, que também apresenta uma prova matemática sustentando que é impossível que nossos sentidos nos ofereçam uma representação exata da realidade. O que percebemos como “real” é apenas uma interface sensorial que nos permite agir de forma eficaz para preservar a vida.
A teoria da evolução de Darwin, embora revolucionária, não leva em conta que os sistemas sensoriais não foram projetados para nos oferecer uma visão fiel do mundo. Em vez disso, nossos olhos, ouvidos e outros sentidos foram selecionados para nos guiar no processo de sobrevivência e reprodução, o que significa que o que vemos, ouvimos ou sentimos não tem o objetivo de refletir a realidade, mas sim de nos ajudar a atender às nossas necessidades imediatas.

Do ponto de vista evolutivo, nossos sentidos nos permitem interagir com o ambiente de maneira eficiente, mas isso não significa que estejamos experimentando o mundo como ele realmente é. Em vez disso, estamos diante de uma espécie de “truque” sensorial, projetado para nos manter vivos tempo suficiente para procriar. Nesse contexto, qualquer tentativa de descobrir a “verdade” por trás de nossas percepções seria desnecessária do ponto de vista da evolução.
Um dos pontos mais controversos de Hoffman é sua visão sobre o espaço-tempo. Segundo ele, o que entendemos por espaço-tempo — isto é, a ideia de um universo tridimensional e o tempo como uma constante — não é a essência da realidade, mas sim uma ferramenta perceptiva criada pelo nosso cérebro para interagir de forma eficaz com o mundo.
Ao analisar a teoria da relatividade de Einstein junto com a teoria quântica, Hoffman sustenta que o espaço-tempo não pode ser a base fundamental da realidade. Em escalas extremamente pequenas, ele perde todo sentido, o que sugere que nossa percepção da realidade está incompleta. Nesse contexto, o psicólogo cognitivo afirma que “o espaço-tempo é apenas um eficaz capacete de realidade virtual”. Ou seja, nossa experiência do mundo não reflete a realidade como ela realmente é, mas é uma construção interna criada para facilitar nossa sobrevivência.
Além disso, Hoffman se distancia das teorias tradicionais de simulação, como a proposta pelo filósofo sueco Nick Bostrom, que sugere que estamos vivendo em uma criação digital controlada por um “programador”.
“Eu nego que um programador de videogames esteja sentado em frente a um computador criando o mundo de experiências conscientes que estou tendo. Em vez disso, o que sugiro é que o próprio sistema físico gera a magia das experiências conscientes que estou vivendo, como o vermelho, o verde, o amor e assim por diante. Essas experiências conscientes, então, são o ponto central do meu desacordo com a teoria da simulação. É muito semelhante à minha própria teoria em outros aspectos, mas este é um ponto bastante sério de conflito para que a teoria funcione”, explica Hoffman.
“Para que a teoria da simulação funcione, eles precisam demonstrar de maneira explícita e científica como uma experiência consciente específica surge de um programa determinado. Até que isso seja feito, não há base para o debate”, acrescenta.
No âmbito filosófico e existencial, Hoffman aprofunda a ideia da consciência. Segundo sua teoria, o “eu” que percebemos como individual e único não passa de uma construção temporária criada pelo nosso cérebro. Na verdade, não somos apenas um corpo físico preso no espaço-tempo; somos uma consciência que transcende qualquer descrição científica.
Esse conceito leva Hoffman a uma conclusão radical: quando removemos a camada das nossas percepções sensoriais, percebemos que somos muito mais do que os indivíduos que acreditamos ser. Assim como em um videogame, onde diferentes personagens são controlados pelo mesmo programa, todos nós somos manifestações de uma consciência universal que experimenta a realidade sob distintas perspectivas.
Essa visão da realidade tem profundas implicações tanto para a ciência quanto para a espiritualidade. Embora a ciência tenha feito avanços significativos na compreensão do mundo físico, o psicólogo cognitivo ressalta que nenhum modelo científico é capaz de abarcar a totalidade da realidade. Portanto, ciência e espiritualidade devem coexistir, já que ambas abordam diferentes facetas da mesma verdade.
A meditação e outras práticas espirituais podem ser caminhos válidos para explorar essa “realidade transcendente”. Segundo Hoffman, os momentos de meditação profunda e introspecção nos permitem experimentar a consciência além dos limites da percepção sensorial, ajudando-nos a conectar com a essência do que realmente somos: uma consciência infinita, que não está limitada pelo espaço-tempo.